O destino dos resíduos sólidos em Manaus acende um sinal de alerta entre especialistas ambientais. Segundo a Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema), a capital amazonense está entre as cidades brasileiras com maior risco de sofrer um desastre ambiental, semelhante ao que ocorreu em junho no município de Padre Bernardo (GO), quando o colapso de um aterro provocou o deslizamento de 40 mil metros cúbicos de lixo em área de conservação ambiental. Para a entidade, a forma como o lixo é tratado em Manaus é insustentável e precisa ser urgentemente revista.
Pedro Maranhão, presidente da Abrema, afirma que Manaus ainda destina seus resíduos a um lixão, apesar de haver alternativas viáveis para a transição a um aterro sanitário regularizado. A cidade, que gera entre duas e três mil toneladas de lixo doméstico por dia, carece de infraestrutura adequada para tratamento de chorume e gases, o que coloca em risco a saúde pública e o meio ambiente. Ele reforça que um aterro sanitário deve contar com obras de engenharia, impermeabilização do solo, captação de metano e sistema de monitoramento ambiental — o que não ocorre no atual modelo adotado pela capital amazonense.
Em meio a esse cenário, a iniciativa privada tem avançado com a construção do Centro de Tratamento e Transformação de Resíduos (CTTR), que promete aproveitar os gases gerados pela decomposição do lixo para reduzir impactos ambientais. Um terço das obras já foi concluído, e a previsão é que o centro receba resíduos de municípios num raio de até 150 quilômetros. No entanto, enquanto a nova estrutura não entra em operação, Manaus continua utilizando um sistema que a Abrema considera ultrapassado e perigoso.
O presidente da entidade ressalta que, embora o foco das denúncias recentes tenha sido o caso de Padre Bernardo, situações semelhantes podem ocorrer em outras cidades que mantêm lixões, como Goiânia e Teresina. Segundo ele, o uso da expressão “aterro controlado” por algumas prefeituras não condiz com a realidade técnica dos locais, funcionando apenas como um eufemismo para esconder a ausência de critérios sanitários e ambientais mínimos. Em Teresina, após a morte de uma criança em um lixão, órgãos de controle como o Ministério Público e o Tribunal de Contas se mobilizaram para exigir a desativação do espaço.