Pesquisadores de Manaus estão explorando uma alternativa inovadora e sustentável para a recuperação de corpos hídricos urbanos. Um estudo realizado no Igarapé do Mindu, apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), investigou o uso de fungos nativos da região no biotratamento da água, apresentando resultados promissores para a melhoria da qualidade ambiental e da saúde pública.
A pesquisa, amparada pelo Programa Biodiversa, recebeu o título “Características Físico-Químicas, Microbiológicas e Utilização de Fungos Filamentosos na Melhoria da Qualidade das Águas do Igarapé do Mindu da Cidade de Manaus”. O estudo avaliou a poluição causada pelo descarte de agentes contaminantes, por meio de análises físico-químicas e microbiológicas, e testou a eficiência dos fungos filamentosos no processo de biorremediação.
Localizado em uma bacia hidrográfica que cobre cerca de um quarto da área urbana de Manaus, o Igarapé do Mindu enfrenta desafios ambientais decorrentes da expansão urbana desordenada, lançamento de esgoto doméstico e acúmulo de resíduos sólidos. Para mapear os impactos, a equipe de pesquisa, coordenada pela doutora em biotecnologia Ingrid Reis da Silva, realizou coletas de água em três pontos diferentes do igarapé, abrangendo áreas com distintos níveis de degradação.
As análises laboratoriais revelaram um cenário preocupante. Os níveis de oxigênio dissolvido variaram entre 2 e 3 mg/l, abaixo do mínimo de 5 mg/l previsto pela Resolução Conama 357/2005 para águas doces de classe 2. Além disso, a Demanda Bioquímica de Oxigênio ultrapassou 47 mg/l em alguns pontos, muito acima do limite de 5 mg/l, e a presença de coliformes termotolerantes alcançou 3 x 10⁵ UFC/100 ml, tornando a água imprópria para consumo ou uso recreativo.
Após o diagnóstico, os pesquisadores aplicaram consórcios de fungos filamentosos, incluindo espécies dos gêneros Trichoderma, Fusarium e Beauveria, durante um período de 10 dias. Os resultados mostraram uma redução significativa dos contaminantes, especialmente na carga orgânica e nos parâmetros microbiológicos. Para Ingrid, o potencial dos microrganismos da própria biodiversidade amazônica pode transformar a forma como se tratam os recursos hídricos da região.
Além de apresentar soluções ambientais viáveis, o projeto teve um caráter educacional importante. Bolsistas e estudantes foram capacitados em técnicas de microbiologia e biotecnologia, fortalecendo a formação científica e tecnológica no estado. O Programa Biodiversa, que apoia iniciativas voltadas para a conservação e uso sustentável da biodiversidade, reforça o papel da pesquisa local no desenvolvimento de soluções inovadoras para os desafios ambientais da Amazônia.