Por Fabiano Bó* – A pecuária é um dos instrumentos mais concretos do poder econômico brasileiro. Seu peso no agronegócio vai além das fronteiras rurais e se projeta como eixo estratégico de abastecimento, emprego e projeção internacional. Em 2024, o setor movimentou US$ 152,6 bilhões, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), equivalentes a 48,9% das exportações do país. Esse protagonismo não é fruto apenas de escala, mas de uma estrutura produtiva cada vez mais técnica, regulada e integrada a padrões globais de sanidade, rastreabilidade e sustentabilidade.
O Amazonas, embora represente uma parcela menor da produção nacional, integra esse cenário com relevância estratégica para o abastecimento interno e o desenvolvimento rural. A atividade pecuária no estado fortalece economias municipais, gera empregos e sustenta cadeias produtivas locais, mas enfrenta limitações estruturais, logísticas e ambientais que exigem políticas públicas específicas. O estado busca alinhar crescimento produtivo, preservação ambiental e acesso a mercados mais amplos, construindo uma base sólida para expansão sustentável.
Realizada pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Produção Rural (Sepror), a Exposição Agropecuária do Amazonas chegou à sua 47ª edição em 2025, refletindo o esforço de valorização do setor rural. O evento contou com a participação do lendário peão Tião Procópio, pioneiro do rodeio em touros no Brasil, e reuniu produtores, técnicos, investidores e órgãos públicos em torno do desenvolvimento sustentável da pecuária regional. Ocorrida entre 28 de setembro e 5 de outubro, a feira movimentou R$ 224,4 milhões em negócios e recebeu aproximadamente 180 mil visitantes.
A programação incluiu 55 cursos gratuitos ministrados pelo Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (IDAM), beneficiando mais de 600 produtores e trabalhadores rurais. Ao assumir o governo, o governador Wilson Lima foi responsável por resgatar a Expoagro após seis anos sem ser realizada. Ele também criou, há três anos, a sede da exposição, a “Casa do Produtor”, consolidando um espaço permanente de apoio técnico e institucional para o setor rural.
Entre as iniciativas da Expoagro, destacou-se o primeiro Leilão Pecuária do Amazonas em formato híbrido, que alcançou 100% de comercialização dos lotes oferecidos. Ao todo, foram arrematados 745 animais e quatro prendas, movimentando mais de R$ 352 mil em negócios, além de um bolo que integrou a arrecadação. Como ação solidária, mais de R$ 219 mil foram destinados ao Hospital de Amor, em Barretos (SP), referência nacional no tratamento e prevenção do câncer. O leilão evidenciou não apenas a força econômica da pecuária amazonense, mas também o compromisso social do setor, consolidando-se como referência em fomento à atividade rural e à solidariedade.
O evento também reforçou parcerias institucionais voltadas ao financiamento do pequeno e médio produtor. Durante a feira, o IDAM e a Agência de Fomento do Estado do Amazonas (AFEAM), junto com bancos como Basa, Bradesco, Caixa e Sicredi, firmaram contratos de crédito rural que somaram aproximadamente R$ 147,1 milhões, destinados a agricultores familiares, criadores e pescadores.
Essas ações buscam ampliar o acesso ao crédito, incentivar a formalização da atividade agropecuária e fortalecer a cadeia produtiva local, gerando efeitos multiplicadores sobre a economia rural e regional. Apesar dos avanços, a pecuária no Amazonas enfrenta desafios estruturais. O transporte de animais e insumos depende de modais fluviais e rodoviários com limitações logísticas, elevando custos e restringindo o acesso a mercados mais distantes.
Além disso, exigências ambientais e sanitárias, fiscalizadas pela Agência de Defesa Agropecuária e Florestal do Estado do Amazonas (ADAF), demandam investimentos contínuos em tecnologia, certificação e monitoramento, essenciais para a competitividade e abertura de mercados nacionais e internacionais. No plano nacional, o Beef Report 2023, da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC), indica que o Brasil exportou 3,02 milhões de toneladas equivalentes carcaça em 2022, correspondendo a 27,9% da produção total.
O relatório reforça que o país possui o segundo maior rebanho bovino do mundo e desempenha papel relevante no abastecimento global. Projeções da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) apontam crescimento contínuo da produção de carne na próxima década, ampliando oportunidades para regiões emergentes que conciliem produtividade, qualidade e sustentabilidade.
O Amazonas apresenta condições promissoras para se integrar a esse contexto. Com recursos naturais abundantes, políticas públicas em desenvolvimento e estrutura institucional em consolidação, o estado pode transformar o potencial demonstrado na Expoagro 2025 em resultados duradouros. O êxito da feira evidencia não apenas movimentação econômica, mas também a capacidade de alinhar produção tecnicamente preparada, viabilidade financeira e responsabilidade ambiental, posicionando o campo amazonense como protagonista no cenário nacional da pecuária.
A mais recente Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM 2024), divulgada pelo IBGE, confirma a expansão da atividade no estado, que ultrapassou a marca de 2,6 milhões de cabeças de gado, consolidando o maior rebanho já registrado no Amazonas. Os municípios de Lábrea, Boca do Acre e Apuí lideram o ranking estadual, com 693,9 mil, 488,4 mil e 306,4 mil animais, respectivamente.
A região Sul concentra o crescimento mais expressivo, impulsionada pela abertura de novas áreas de pastagem e pela consolidação de sistemas de produção extensivos. Entre 2022 e 2023, o rebanho amazonense cresceu 17,1%, com acréscimo de aproximadamente 348 mil cabeças. Em contraste, municípios do alto rio Negro e do médio Solimões, como Barcelos, Santa Isabel e Atalaia do Norte, mantêm rebanhos residuais, com menos de 100 animais, evidenciando uma concentração geográfica e produtiva.
Esse avanço, embora significativo, ocorre em áreas que também figuram entre as mais críticas em desmatamento e focos de incêndio, segundo levantamento do Amazonas Atual. O cenário reforça a necessidade de intensificação sustentável e políticas de manejo integradas, capazes de equilibrar o potencial econômico com a preservação ambiental e a regularização fundiária. Especialistas da Embrapa defendem que a adoção de práticas tecnificadas, como o melhoramento genético, o manejo de pastagens e o uso racional do solo, é decisiva para elevar a produtividade sem ampliar a pressão sobre a floresta.
*Coronel da Polícia Militar, especialista em Política e Estratégia (ADESG) e secretário de Estado Chefe da Casa Militar do Amazonas.

