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Brasil: o império do café e a ascensão do Robusta Amazônico

Por Fabiano Bó* – O Brasil permanece no epicentro do mercado global de café, consolidando-se não apenas pelo volume de produção, mas pela capacidade de unir tradição, qualidade e inovação. Em 2024, o país colheu 54,21 milhões de sacas de 60 kg, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Minas Gerais responde por mais de 50% desse total, seguida por Espírito Santo, São Paulo, Bahia e Paraná, reconhecidos pela excelência de suas variedades Arábica e Conilon.

A história do café na Amazônia remonta a 1727, quando o capitão do Exercíto Português, Francisco de Melo Palheta, trouxe as primeiras mudas para o Pará. Embora o cultivo tenha enfrentado barreiras naturais por séculos, Rondônia consolidou-se como polo de produção de café Conilon. Mais recentemente, o Amazonas tem demonstrado crescimento expressivo por meio do Robusta Amazônico, que é uma variedade do café Conilon desenvolvida especificamente para as condições da Amazônia. Pesquisas e técnicas de melhoramento genético permitiram que essa planta se adaptasse ao clima quente e úmido da região, além de resistir a pragas locais, garantindo produtividade e qualidade do grão. Essa adaptação tornou possível expandir a produção em áreas antes consideradas desafiadoras para a cafeicultura.

Em 2024, a produção do estado alcançou 1.500 toneladas, um aumento de 49,7% em relação a 2023, com 1.200 hectares cultivados, conforme o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (Idam). A projeção para 2025 indica 2.200 toneladas, consolidando a região como protagonista emergente no cenário nacional.

Municípios como Humaitá, Apuí, Rio Preto da Eva e Silves lideram a expansão, adotando técnicas de cultivo de café clonal que aumentam a produtividade, melhoram a resistência das plantas e elevam a qualidade do grão. A produção de cafés especiais nessas localidades tem se destacado em concursos nacionais, elevando o nome do Amazonas no mapa do café de excelência. Produtores de Silves ficaram entre os dez melhores cafés do Brasil na 7ª edição do Concurso Florada Premiada, promovido pela empresa Três Corações durante a Semana Internacional do Café em Belo Horizonte. Esse reconhecimento evidencia o potencial da produção local e a qualidade dos cafés produzidos na região, que chegam à mesa de consumidores em todo o mundo.

O crescimento da cafeicultura amazônica tem impactos econômicos significativos. Gera emprego e renda para comunidades locais, fortalece cadeias produtivas e amplia a competitividade do Brasil no comércio internacional. Além disso, a produção de cafés especiais e sustentáveis aumenta o valor agregado do produto nacional, reforçando a imagem do Brasil como referência global em qualidade. Do ponto de vista ambiental, a expansão do cultivo clonal e de práticas sustentáveis demonstra que é possível equilibrar produção agrícola com preservação ambiental. A integração entre tradição histórica e inovação tecnológica cria um modelo de desenvolvimento replicável, onde produtividade, qualidade e responsabilidade socioambiental caminham lado a lado.

O futuro do café brasileiro passa pela consolidação de novas fronteiras, pelo investimento contínuo em tecnologia e conhecimento e pela valorização da sustentabilidade. A Amazônia, historicamente um território desafiador para a agricultura, emerge hoje como um símbolo de inovação, excelência e liderança mundial, garantindo que o Brasil não apenas mantenha sua hegemonia histórica, mas também se projete como referência global em cafés de alta qualidade.

*Coronel da Polícia Militar, especialista em Política e Estratégia (ADESG) e secretário de Estado Chefe da Casa Militar do Amazonas.

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