Por Fabiano Bó* – Em um cenário global de competição acirrada e rápidas transformações tecnológicas, a indústria permanece como um dos pilares centrais para o desenvolvimento sustentável e a soberania nacional. No Brasil, apesar dos obstáculos estruturais e regionais, o setor industrial ainda representa cerca de 19% do Produto Interno Bruto (PIB) e é responsável por mais de 70% das exportações brasileiras de bens manufaturados, conforme dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Esses números ressaltam o papel indispensável da indústria para a geração de empregos qualificados, inovação e equilíbrio da balança comercial.
No contexto amazônico, a relevância da indústria assume contornos singulares e estratégicos. Industrializar na Amazônia não se limita à implantação de fábricas ou à atração de investimentos por incentivos fiscais. Trata-se de conciliar o crescimento econômico com a preservação de uma das maiores reservas naturais do planeta, que é patrimônio do Brasil e objeto de interesse global. É neste ambiente complexo que a Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), que comemorou 65 anos em 3 de agosto, consolidou-se como agente fundamental na promoção do desenvolvimento regional integrado às demandas socioambientais.
Desde sua fundação em 1960, anterior à criação da Zona Franca de Manaus em 1967, a Fieam assumiu o desafio de representar e organizar o setor produtivo em uma região até então marginalizada das grandes decisões econômicas nacionais. A entidade consolidou-se não apenas como porta-voz dos interesses industriais, mas como catalisadora de políticas públicas, inovação e qualificação profissional, traduzindo as particularidades e desafios amazônicos em estratégias nacionais consistentes.
O Polo Industrial de Manaus exemplifica a eficácia dessa articulação. Segundo dados da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), o complexo reúne mais de 500 empresas ativas e gera mais de 131 mil empregos diretos, movimentando aproximadamente 7% do PIB estadual. Essa dinâmica não é fruto exclusivo de políticas públicas, mas também do trabalho contínuo da Fieam na construção de soluções técnicas, na interlocução com o governo federal e no estímulo à modernização produtiva que respeita a floresta e a sustentabilidade.
A atuação da Fieam transcende a defesa setorial. Por meio de suas parcerias com o Serviço Social da Indústria (SESI), do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), a federação fomenta a qualificação profissional, a inclusão social e o desenvolvimento do capital humano, elementos essenciais para a competitividade e a inovação. Atualmente, milhares de jovens amazonenses ingressam no mercado de trabalho com preparação técnica alinhada às exigências do século XXI, o que representa um impacto social e econômico profundo e duradouro.
Em um momento em que o mundo reavalia suas cadeias produtivas diante das crises climáticas, geopolíticas e tecnológicas, o modelo de desenvolvimento sustentável do Amazonas, construído com rigor ambiental e visão estratégica, ganha destaque nacional e internacional. A Fieam, com sua trajetória de 65 anos, mantém-se firme na defesa de um projeto que alia crescimento econômico, inovação e preservação ambiental, agindo com responsabilidade institucional, visão sistêmica e coerência técnica.
Celebrar a história da Fieam é reconhecer a indústria como força motriz da economia no Norte brasileiro e seu papel fundamental no desenvolvimento nacional. É reafirmar que a Amazônia não é uma região periférica, mas um centro estratégico para o Brasil. O desafio que temos pela frente é garantir que essa importância seja reconhecida e valorizada, com inteligência, respeito e compromisso público-privado.
*Coronel da Polícia Militar, especialista em Política e Estratégia (ADESG) e secretário de Estado Chefe da Casa Militar do Amazonas.